terça-feira, 6 de março de 2012

ESPECIAL COPOM:Preocupação c/câmbio aumenta chances de queda maior da Selic


    São Paulo, 6 de março de 2012 - A preocupação do governo em relação ao
câmbio, com o elevado fluxo de capitais que estão entrando no Brasil, e os 
rumores de que possam ser feitas mudanças nas regras da caderneta de poupança 
trouxeram novos elementos que podem ser considerados no cenário do Banco 
Central (BC) e fizeram com que surgissem apostas em uma aceleração do ritmo da
queda da taxa básica de juros (Selic). Um das hipóteses é que o BC use a 
argumentação de que a forte entrada de recursos pode ter efeito inflacionário
no País e, com esse e outros fatores, ver espaço para uma menor taxa de 
juros.


   Das 72 instituições ouvidas pelo Termômetro Leia, pesquisa feita pela 
Agência Leia, 66 apostam em queda da taxa em 0,50 pp, quatro instituições 
esperam um corte maior, de 0,75 pp, uma em um corte de 1 pp e uma em um corte de
0,25 pp, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que começa 
hoje.

   Entre as instituições que esperam uma maior queda da Selic, está a Leme 
Investimentos, que mudou nos últimos dias a sua projeção de queda de 0,5 para
0,75 ponto percentual. Na sua avaliação, o governo e o BC tem sinalizado para
juros menores e até uma aceleração na queda, sendo que o resultado fiscal de
janeiro obtido pelo governo também reforça o espaço para uma queda maior 
agora. No entanto, não acredita que essa queda será sustentável e prevê que 
a Selic poderia voltar para 10,00% já no final do ano.

   O economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, por sua vez, 
continua mantendo a expectativa de queda de 0,5 ponto, mas não descarta uma 
aceleração do ritmo de queda. Para ele, apesar da função do BC ser se 
preocupar apenas com a inflação, como parte do governo, a autoridade 
monetária pode olhar para a taxa de câmbio, levando em consideração que a 
elevada entrada de capitais no País pode ter um impacto na demanda e efeito 
inflacionário.

    "O BC tem dito que economia está inserida em um contexto de elevado risco
e liquidez mundial, o que significa que mais capital continuará entrando para 
o País e maior a taxa de juros traz maior atratividade. O BC ainda percebe que 
esse fluxo pode reforçar o crescimento de ritmo inflacionário", explicou.

   Dessa forma, apesar de não descartar uma aceleração, acredita que o mais 
provável é que o BC estenda o ciclo de corte. A sua previsão é de uma queda 
de 0,5 pp nessa reunião, mas passou a prever que a taxa chegue a 9,0% este ano 
e não a 9,5% como esperava anteriormente. Atualmente, a taxa está em 10,50%.

   "Há preocupação do governo com uma eventual apreciação cambial e com a
posição já abalada da indústria, sendo que ele já indicou que gostaria de 
uma taxa de juros de um dígito. Isso, somada às incertezas do mercado e 
estudos que BC tem efeito de como operar a política monetária, faz com que 
percebemos que ele pode alongar o ciclo de corte", acredita.

   Para o economista-chefe, outras questões que permitiriam que uma taxa de 
juros mais baixa seja, de fato, mantida no Brasil, também parecem estar na 
agenda do governo, como a possibilidade de serem alteradas as regras de 
remuneração da caderneta de poupança. A última vez em que a Selic caiu para 
um dígito, chegando a 8,75%, o mercado começou a temer uma migração de 
fundos de investimentos e outros títulos para a poupança.

   O economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, também destacou
que a dúvida que ronda o mercado, e também a maior mudança no cenário desde
a última reunião do Copom, é a questão cambial, já que apenas uma taxa de 
juros menor colocaria um "freio efetivo" na entrada de dólares no Brasil. 
"Boa parte da valorização do real ser mais forte é explicada pelo 
diferencial de juros. O BCE [Banco Central Europeu] já emprestou para os bancos
mais de 1 trilhão de euros, na teoria são para impulsionar a economia, mas 
esses recursos não tem destino certo. É difícil controlar a apreciação do 
câmbio com a liquidez tão elevada", disse.

   A questão cambial, no entanto, levanta polêmicas, Combat também acredita 
que o BC não pode reduzir mais os juros pensando na taxa de câmbio, além de 
alegar que uma queda de 0,75 pp não faria diferença, já que apenas uma 
redução muito maior da Selic levaria a uma menor entrada de capital no País. 
"Para mim, ele [BC] não vai fazer isso [reduzir a Selic em 0,75 pp], há juros
perto de zero no mundo todo, nos Estados Unidos estão em 0,25%, teria que ser 
um choque", argumenta.

   Tanto para Combat quanto para Padovani, o BC, além da questão do câmbio, 
ainda não deve perder de vista os riscos no cenário inflacionário, que pode 
voltar a se acelerar, assim como a atividade doméstica, principalmente a partir
 do segundo semestre deste ano.

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