Recuperação do ativo ITUB4, que acumula perdas que já chegam a 9% no ano, deve ocorrer somente em 2013, conforme a inadimplência do banco comece a dar sinais de queda.
As ações dos grandes bancos brasileiros não passam por seus melhores dias, em função de todas as cobranças do governo para que as instituições reduzam suas taxas de juros, em linha com a queda promovida na Selic.
Apesar disso, no acumulado do ano, os papéis do Bradesco (BBDC4) ainda têm ganhos expressivos, que se aproximam de 4%, enquanto os do Itaú Unibanco (ITUB4) têm perdas de 9%.
Se a comparação entre os pares que mais se aproximam dentro do setor de bancos já chama a atenção, a situação dos ativos do Itaú fica ainda mais crítica quando colocados ao lado dos papéis do Banco do Brasil e do Santander, que são instituições mais suscetíveis a riscos externos.
As ações do Banco do Brasil (BBAS3) sobem 1,20% no ano, enquanto as do Santander (SANB11) avançam 2,76%.
A performance dissonante dos ativos do Itaú, de acordo com especialistas de mercado, reflete o desempenho operacional do banco no segundo trimestre de 2012, que não agradou os investidores.
Com a expectativa de que os resultados a serem apresentados no terceiro trimestre não tragam surpresas positivas, a tendência é que as ações do Itaú experimentem alguma recuperação somente a partir do ano que vem.
"O desempenho negativo reflete a questão da inadimplência acima de 90 dias do Itaú", diz João Augusto Salles, analista da Lopes Filho Consultores de Investimentos.
Até junho, o índice de inadimplência do Itaú estava em 5,2%, contra 4,2% do Bradesco.
Essa inadimplência do Itaú decorre das concessões na área de veículos, na qual o banco atuou de maneira agressiva, sobretudo em 2010 e 2011.
Por se tratar de uma modalidade com prazos longos, os efeitos negativos dessas operações demoram a deixar de se refletir nos resultados, pondera o especialista da Lopes Filho.
"Com isso, o Itaú teve de criar mais provisões para enfrentar a inadimplência, o que impacta no resultado final, na rentabilidade", afirma Salles.
O lucro líquido do Itaú no segundo trimestre totalizou R$ 3,304 bilhões, queda de 8,2% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Já o Bradesco reportou lucro líquido de R$ 2,867 bilhões no período, alta de 1,5%, na mesma base de comparação.
A rentabilidade do Itaú, que ficou em 19,4%, também veio abaixo da obtida pelo Bradesco, que foi de 20,6%.
Conforme os créditos referentes às operações mais antigas de veículos deixem o balanço do Itaú, processo que deve começar em 2013, poderemos então esperar por alguma recuperação dos ativos, na avaliação do analista da Lopes Filho.
"Só vamos observar alguma queda da inadimplência do Itaú no ano que vem, quando o banco vai ter uma carteira mais limpa", estima Salles.
Além dos últimos resultados, outro ponto desfavorável para o banco, que tem reflexos nas ações, diz respeito à consolidação das operações do Itaú com o Unibanco, que não trouxe os ganhos de sinergia esperados.
"O mercado acabou se frustrando com os potenciais ganhos de sinergia que poderiam vir entre Itaú e Unibanco", fala João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos.
"O fato é que a fusão dos dois não foi tão boa como se imaginava três anos atrás. O Bradesco conseguiu se aproximar em termos de ativos via crescimento orgânico, e com aquisições de porte não tão grande como a do Itaú com o Unibanco", observa esse especialista.
Os ativos totais do Bradesco encerraram junho em R$ 830,5 bilhões, alta de 20,5% em bases anuais, enquanto os do Itaú totalizaram R$ 888,8 bilhões, incremento de 12%.
Assim como Salles, da Lopes Filho, o analista da Leme também não espera por alterações no atual cenário de discrepância entre as ações do Itaú e do Bradesco.
"Parece que o Itaú vem fazendo os esforços necessários, e de repente o papel pode se ajustar, mas no curto prazo deve permanecer assim", comenta Brugger.
As comparações geralmente ficam entre Bradesco e Itaú, explica o especialista, pelo fato de o Banco do Brasil ter constantes intervenções governamentais, e o Santander ter por trás sua controladora na Espanha, o que embute um risco maior para a instituição em termos de choques vindos do exterior.
Em linhas com seus colegas fundamentalistas, o grafista Eduardo Matsura, da Souza Barros, não acredita em uma recuperação das ações do Itaú.
"O papel tem um viés negativo, e possivelmente vai cair mais", pondera o analista gráfico.
Após esboçar uma recuperação em agosto e no início de setembro, as ações do maior banco privado do país perderam o suporte de R$ 31,13 no final do mês passado, e podem ir buscar um nível ainda mais baixo, em torno de R$ 28,40, pondera Matsura.
"O papel rompeu uma área de suporte importante, e a pressão vendedora está bastante forte. A ação tem chances de voltar às mínimas do ano, perto de R$ 26,60, que ocorreram entre maio e junho", diz o analista da Souza Barros.
"Por enquanto não tem sinalização de reação compradora, o viés é baixista mesmo".
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