quinta-feira, 19 de julho de 2012

Copom volta a falar em "parcimônia" sobre cortes no juro--ata



BRASÍLIA, 19 Jul (Reuters) - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central voltou a afirmar que futuras reduções na Selic terão de ser feitas com "parcimônia", apesar da lentidão na retomada econômica.



"Mesmo considerando que a recuperação da atividade vem ocorrendo mais lentamente do que se antecipava, o Copom entende que, dados os efeitos cumulativos e defasados das ações de política implementadas até o momento, qualquer movimento de flexibilização monetária adicional deve ser conduzido com parcimônia", disse o Copom na ata de sua última reunião, divulgada nesta quinta-feira.

Na semana passada, o Copom reduziu a Selic em 0,50 ponto percentual, levando-a para a nova mínima histórica de 8,0 por cento ao ano. Foi o oitavo corte seguido desde que o BC começou o processo de flexibilização monetária, em agosto passado, para estimular a cambaleante economia brasileira.

No documento desta quinta-feira, o BC informou que a recuperação da atividade econômica doméstica vem acontecendo de forma "bastante gradual", mas que seu cenário principal indica um "ritmo de atividade mais intenso neste semestre".

O BC indicou, por outro lado, que a demanda doméstica tende a se apresentar robusta. "Especialmente o consumo das famílias, em grande parte devido aos efeitos de fatores de estímulos, como o crescimento da renda e a expansão moderada do crédito."

A avaliação do mercado sobre a ata divulgada nesta quinta mostrou que existe uma expectativa de mais um corte em agosto, mas os passos seguintes são mais incertos.

"A ata de hoje...deixa a porta aberta à possibilidade de mais cortes (na Selic), além de agosto", afirmou o economista-chefe da Raymond James, Mauricio Rosal.

Para o economista-chefe da Sulamérica Investimento, Newton Rosa, o fato de a ata conter o parágrafo no qual o Copom diz que "qualquer movimento de flexibilização monetária adicional deve ser conduzido com parcimônia" sinaliza redução da Selic na reunião de agosto. "É um sinal de que mais um corte de 0,50 ponto percentual está contratado", disse.  
A ata evidencia, na avaliação de Rosa, que o BC mantém preocupação com os desdobramentos da crise externa, ao mesmo tempo que vê sinais de moderação nos riscos de piora do quadro internacional.

O estrategista-chefe da WestLB, Luciano Rostagno, compartilha dessa visão. "A ata indica que o BC deve voltar a cortar os juros em agosto em mais 0,5 ponto percentual. Em relação a isso, não houve linguagem diferente em relação à ata anterior", comentou.

Após agosto, acrescentou Rostagno, eventuais sinais de reduções na Selic dependerão se os indicadores confirmarem a projeção do BC de aquecimento da atividade.

Atingida pela crise externa, a atividade não tem mostrado sinais de recuperação, mesmo com os diversos incentivos dados pelo governo.

O próprio BC piorou sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, de 3,5 para 2,5 por cento, segundo o relatório trimestral de inflação de junho . O mercado é mais pessimista e calcula expansão de apenas 1,9 por cento para 2012, de acordo com a última pesquisa Focus do BC, divulgada na segunda-feira.

INFLAÇÃO

Para o cenário externo, o BC informou que foram consolidadas as perspectivas de uma "atividade global mais moderada do que se antecipava", mas pouco se alteraram as restrições expostas a economias maduras.

Por outro lado, acrescentou que "neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação...e a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária". Em outro ponto, o BC reforçou "que se apresenta como importante fator de contenção da demanda agregada o ainda frágil cenário internacional".

O Copom informou também que a projeção de inflação para 2012 reduziu-se em relação à previsão da reunião de maio "e se encontra em torno do valor central da meta de 4,5 por cento (pelo IPCA)", repetindo avaliação do documento anterior, publicado em junho.
Para 2013, o Copom salientou que a projeção para a inflação reduziu-se tanto no cenário de referência quanto no de mercado, mas ainda acima do centro da meta, também como havia mencionado na ata anterior. O cenário de referência leva em consideração a taxa de câmbio de 2 dólares e a taxa Selic de 8,5 por cento ao ano.

O Copom informou que as projeções para reajuste nos preços da gasolina e gás de bujão foram mantidas em zero por cento. Em junho, a Petrobras reajustou os preços da gasolina, mas como o governo reduziu a zero a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), não houve impacto nos preços ao consumidor.

A ata indicou ainda que a estimativa de reajuste das tarifas de telefonia fixa passou para uma redução de 1 por cento ante um aumento de 1,5 por cento na reunião anterior, e que a projeção de elevação da tarifa de energia elétrica passou de 1,3 por cento para 1,4 por cento.

De acordo com o Copom, a projeção de reajuste, construída item a item, para o conjunto de preços administrados por contrato e monitorados para o acumulado de 2012, reduziu-se para 3,6 por cento ante 4 por cento considerados na reunião do Copom de maio.

(Reportagem adicional de Alonso Soto)



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