São Paulo, 20 de julho de 2012 - O governo da China tem espaço para
realizar novos estímulos à economia, cujo crescimento apresentou
desaceleração nos últimos meses, por meio de novos cortes na taxa de juros e
aumentando os investimentos em infraestrutura. No entanto, segundo os analistas
ouvidos pela Agência Leia, a expansão do país deve ficar em torno de 8% neste
ano - taxa menor que a registrada em 2011, de 9,2% - e não retomará o ritmo
acelerado observado nos últimos anos.
No segundo trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) da China
aumentou 7,6% em termos anuais, após crescer 8,1% no trimestre anterior. A
desaceleração já era prevista como consequência da crise financeira
internacional, em especial na eurozona, que é a maior parceira comercial da
China, segundo Peter Kenny, diretor-geral da Knight Capital.
Em março deste ano, o governo da China anunciou a redução da meta de
crescimento do PIB para 7,5%, ante a meta de alta de 8% que vigorava desde 2005.
Na ocasião, o primeiro-ministro do país, Wen Jiabao, reiterou que o governo
manteria uma política "proativa" do ponto de vista fiscal e "prudencial" em
termos monetários, que incluiria uma mudança para um modelo econômico mais
sustentável baseado no desenvolvimento do consumo interno,
De acordo com Minyi Chen, vice-presidente da TrimTabs Investment Research,
como houve uma redução nas pressões inflacionárias no país - o índice de
preços ao consumidor encolheu 0,6% em junho ante maio -, "o governo tem mais
flexibilidade para implementar políticas monetárias". Para ele, o governo de
Jiabao deve colocar em prática uma política monetária mais expansiva nos
próximos trimestres, com a redução gradual das taxas de depósito
compulsório e de juros.
Para Richard Martin, diretor-geral do IMA Asia, no entanto, medidas como
essas devem apenas devolver o crescimento do PIB chinês para a faixa de 8% a
8,5% no segundo semestre do ano. "São necessários mais estímulos, e eles
têm dinheiro de sobra e controle sobre a economia para fazê-lo", mas há
fatores contrários a uma expansão mais acentuada, como a crise da eurozona,
que está durando mais que o esperado e afetando a balança comercial,
acrescentou.
Kenny, da Knight Capital, lembra ainda que juros mais baixos podem
impulsionar a concessão de crédito e a atividade econômica, "no entanto é
preciso apetite ao risco para que os empréstimos aconteçam". Segundo ele, nos
Estados Unidos os juros estão próximos de zero, mas a demanda ainda não é
suficiente. "Não há certeza se simplesmente a redução dos juros poderá
ocasionar crescimento", explica.
No início de julho, o Banco do Povo da China (Pboc, banco central do país)
anunciou um novo corte dos juros, apenas um mês depois de ter reduzido essas
taxas pela primeira vez desde 2008. Em um comunicado, a instituição informava
que a taxa de um ano para depósitos foi reduzida em 0,25 ponto porcentual, para
3,00%, e que a taxa de um ano para empréstimos diminuiu 0,31 ponto porcentual,
para 6,00%.
Para Chen, os juros foram reduzidos a partir de uma taxa muito elevada,
"então o impacto inicial não é evidente". De acordo com ele, a China
também impõe muitas medidas restritivas, como as limitações nas hipotecas
para compra de imóveis. "Uma taxa de juros mais baixa não pode ser
transformada para aumentar o consumo caso a pessoa não tenha empréstimos
aprovados", aponta.
Segundo William Smead, CEO da Smead Capital, "quando uma bolha estoura, a
política deixa de ser efetiva". Para Smead - que não confia na transparência
e na veracidade dos números apresentados pelo governo da China -, o alívio
monetário é parte do problema que atinge o país, de forma que um novo
afrouxamento não ajudará a resolver a situação. "O problema é a má
alocação de capital e distribuir errado o capital novamente não ajuda",
afirma.
As consequências da desaceleração da China na economia global também
são motivo de preocupação para os analistas. Para Kenny, qualquer
desaceleração na economia da China tem o potencial de exercer um impacto
negativo na economia global, mas isso é relativo. "A taxa anual em 7,6% não
impõe uma ameaça, qualquer número abaixo de 7% começaria a ter impacto",
ressalta.
Já Martin defende que o país precisa manter a taxa acima de 7,5%. "Há
uma montanha de empréstimos podres escondidos na economia e, caso o crescimento
recue mais, esses empréstimos serão expostos", levando junto com eles os
credores que emprestaram o dinheiro.
Outro possível impacto da situação da China é nos países emergentes, em
razão dos preços das commodities. Segundo William Smead, CEO da Smead
Capital, o "lado positivo" da desaceleração do país é uma queda nos
preços das commodities, pois o país é um grande consumidor. Os emergentes,
que são em geral exportadores de commodities, no entanto, sofrerão mais ainda
os impactos da contração, aponta Kenny.
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