RIO DE JANEIRO, 11 Jul (Reuters) - As vendas no varejo brasileiro surpreenderam em maio ao recuar 0,8 por cento frente a abril, maior queda desde novembro de 2008 (-1,3 por cento), indicando que a economia brasileira continua patinando e que mais cortes de juros podem vir. Comparado com um ano antes, as vendas cresceram 8,2 por cento em maio, abaixo do esperado pelo mercado.
Analistas ouvidos pela Reuters previam que as vendas cresceriam 0,6 por cento em maio sobre abril e 10,50 por cento sobre um ano antes. As contas mensais variaram de queda de 0,30 por cento e alta de 1 por cento, enquanto que as anuais, de expansão de 8,80 a 11,20 por cento.
"O comércio está convergindo para o ritmo real da economia... A fórmula aplicada em 2008 para enfrentar a outra crise não está dando o mesmo resultado", declarou a jornalistas o economista do IBGE Reinaldo Pereira. "Agora, há uma componente importante que é o endividamento das famílias. O consumidor não está respondendo ao estímulo do governo", adicionou.
Segundo o IBGE, três das oito atividades pesquisadas tiveram resultados negativos na comparação mensal. O principal destaque foi o segmento de móveis e eletrodomésticos, com queda de 3,1 por cento em maio, depois de ter expandido 1,5 por cento em abril.
Sobre um ano antes, houve alta de 9,3 por cento em maio e, segundo o IBGE, "reflete a política de incentivo do governo ao consumo através da redução de alíquotas de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a chamada linha branca, além da manutenção do crédito, da estabilidade do emprego e do crescimento da renda".
Em maio, também houve retração nas vendas nos segmentos de combustíveis e lubrificantes (-0,8 por cento) e de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,2 por cento).
Na ponta oposta, houve crescimento em maio sobre abril nas atividades de equipamento e material para escritório, informática e comunicação (+3,5 por cento), de livros, jornais, revistas e papelaria (+1,6 por cento), entre outros.
O segmento de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo registrou alta de 0,1 por cento nas vendas em maio, depois da retração de 0,7 por cento vista em abril. Somente hipermercados e supermercados, no entanto, continuaram mostrando queda nas vendas, apesar de em menor ritmo, passando de -0,7 para -0,2 por cento no período.
Na comparação anual, ainda segundo o IBGE, boa parte das atividades mostrou desaceleração no crescimento em maio, com destaque para equipamentos para escritório e informática, que passaram de 33,2 por cento em abril para 17,3 por cento em maio. Móveis e eletrodomésticos registraram alta nas vendas de 9,3 por cento em maio, antes 12,5 por cento em abril.
"O resultado de maio foi negativo e não dá para dizer ainda que trata-se de uma inflexão na curva. Temos de aguardar mais informação para ver se foi pontual ou uma mudança de trajetória", frisou o economista do IBGE, acrescentando que as vendas de junho devem refletir o aumento nas vendas de veículos, com a redução do IPI feita recentemente pelo governo.
O IBGE revisou ainda os dados das vendas de abril sobre março, passando de alta de 0,8 para 0,7 por cento.
Os resultados reforçam ainda mais a perspectiva de novos cortes na taxa básica de juros, atualmente na mínima histórica de 8,50 por cento, pelo Banco Central como forma de incentivar a atividade.
"Levando em conta os últimos dados disponíveis, o BC terá que ser ousado e jogar a Selic para além do que o mercado acredita como razoável, caso contrário a autoridade monetária só estará perdendo tempo", avaliou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, para quem a taxa básica de juros pode ir a 7 por cento neste ano.
O BC já reduziu a Selic em 4 pontos percentuais desde agosto passado, e a expectativa é de mais um corte de 0,50 ponto percentual na reunião desta quarta-feira do Comitê de Política Monetária (Copom). Para o final do ano, o mercado vê a Selic em 7,50 por cento.
Para o estrategista-chefe do WestLB, Luciano Rostagno, o mau resultado visto no varejo em maio não é uma tendência e acredita que a contração foi uma acomodação sobre os meses anteriores, que registraram altas importantes.
"(O número de maio) foi muito mais uma acomodação do que uma indicação de uma nova tendência. O numero, apesar de ter sido surpreendente, não altera o cenário de consumo doméstico ainda robusto", afirmou ele.
O resultado no comércio varejista é um importante indicador da atividade econômica no país, que ainda encontra dificuldades em mostrar recuperação por conta, sobretudo, da indústria. Por isso, os setores varejistas e de serviços vinham evitando mais tropeços da economia, sustentados por uma demanda interna ainda aquecida por causa do aumento da renda e do emprego.
O governo vem adotando nos últimos meses uma série de medidas para incentivar a atividade no Brasil, que vão de benefícios fiscais a indústrias e consumidores a aumento das compras federais.
A preocupação aumentou depois que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu no primeiro trimestre apenas 0,2 por cento na comparação com os últimos três meses de 2011. A indústria é o setor que mais vem encontrando dificuldade em se recuperar sendo que, em maio, a produção do setor caiu 0,9 por cento.
(Reportagem adicional de Diogo Ferreira Gomes e Walter Brandimarte)
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