quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

IPCA sobe 5,84% em 2012, dentro da meta do governo, com preços acelerando


Por Rodrigo Viaga Gaier e Tiago Pariz
RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA, 10 Jan (Reuters) - Influenciada sobretudo por alimentos e despesas pessoais, a inflação oficial brasileira encerrou 2012 dentro da meta do governo, mas acelerando e acima das expectativas, indicando que a pressão sobre os preços ainda deve continuar por mais tempo.
Mesmo assim, especialistas mantém as avaliações de que a taxa básica de juros do país não será elevada neste ano, mas já não descartam essa possibilidade.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou 2012 com alta acumulada de 5,84 por cento, após avançar 0,79 por cento em dezembro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira.

Com o resultado, o governo cumpriu a meta de inflação do ano passado, estipulada em 4,5 por cento com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. Foi o nono ano seguido que o objetivo foi alcançado.
O indicador, no entanto, manteve-se em níveis considerados elevados, mais próximo ao teto, deixando a luz amarela acesa em 2013 para elevadas pressões sobre os preços,
Ainda mais que, no mês passado, o IPCA mostrou aceleração sobre novembro, quando foi registrada alta de 0,60 por cento. O resultado de dezembro também foi a maior alta mensal desde março de 2011, quando também avançou 0,79 por cento.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, admitiu que há resistência de curto prazo na inflação. "Mas as perspectivas indicam retomada da tendência declinante ao longo de 2013", afirmou ele por meio de comunicado sem citar, no entanto, que a inflação caminhará para o centro da meta neste ano, como defendeu recentemente.
Há três anos, a inflação oficial brasileira tem ficado na parte superior da meta. Em 2011, o IPCA fechou exatamente no teto de 6,50 por cento, enquanto que em 2010, em 5,91 por cento.
Analistas ouvidos pela Reuters projetavam alta de 0,74 por cento no mês passado e, para 2012 fechado, de 5,79 por cento segundo a mediana das previsões.
ALIMENTAÇÃO E DESPESAS PESAM
De acordo com o IBGE, no ano passado, os itens que tiveram maior variação positiva no IPCA foram os de Alimentação e bebidas e de Despesas pessoais, com altas acumuladas de 9,86 e 10,17 por cento, respectivamente.
Em 2012, os itens que tiveram menor variação positiva de preços, ainda segundo o IBGE, foram os de Transportes (0,48 por cento) e o de Artigos de residência (0,84 por cento).
Só em dezembro, dos nove grupos pesquisados, seis mostraram acelaração nas altas quando comparado com novembro, com destaque para Alimentação e bebidas (passando de 0,79 para 1,03 por cento) e Despesas Pessoais (0,53 para 1,60 por cento)
O resultado do IPCA de dezembro veio ainda mais forte do que a sua prévia, o IPCA-15, que no mês passado registrou a maior alta em mais de um ano e meio ao subir 0,69 por cento em dezembro, impulsionado pelos preços de despesas pessoais e alimentos.
MAIS PRESSÃO À FRENTE
O mercado aposta que a inflação continuará subindo nos próximos meses para se aproximar, em 12 meses, de 6,5 por cento --o teto da meta de 2013, também fixada em 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais-- até junho, o que pode desafiar as decisões de política monetária do BC.
"A nossa expectativa é que a inflação em 12 meses vai atingir 6,3 por cento em junho. Basta ter um choque (de preços) para extrapolar a meta", afirmou o economista-sênior do BES Investimento Flávio Serrano, citando como exemplo possível alta nos preços das commodities diante da maior demanda vinda da China.
O cenário mais complicado nos preços daqui para frente somente não é pior, segundo os analistas, porque o governo tem reforçado que vai garantir a redução média de 20 por cento nos preços das tarifas de energia elétrica neste ano.
Mesmo com a ameaça de preços mais elevados, os analistas acreditam que a autoridade monetária não vai alterar o curso da taxa de juros, hoje na mínima histórica de 7,25 por cento ao ano, preocupada em não atrapalhar a retomada do crescimento econômico. O mercado, pelo menos por enquanto, vê a Selic estável ao longo deste ano todo.
"É um cenário mais adverso para a inflação este ano, com os riscos mais altos. Mas como já foi assinalado pelo BC, ele não planeja elevar o juros para reverter essa tendência. Eles vão manter a política enquanto não houver risco de estourar o teto", afirmou o economista da Tendências, Silvio Campos Neto.
O BC reduziu a Selic para a mínima histórica por meio de dez cortes seguidos, processo interrompido no final do ano passado. A autoridade monetária tem informado que essa política será mantida "por um período de tempo suficientemente prolongado".
Mas há quem não descarte altas na taxa básica de juros ainda em 2013.
"O foco do BC está mais na atividade do que na inflação propriamente dita, mas não acho que vai aceitar inflação acima de 6,5 por cento. Se chegar em 6,5 por cento, ele vai agir", afirmou Serrano, do BES Investimento, apesar de acreditar que a Selic será mantida neste ano.
(Reportagem adicional de Diogo Ferreira Gomes, no Rio de Janeiro; e Asher Levine, em São Paulo)

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