terça-feira, 2 de julho de 2013

Produção industrial cai 2% em maio, puxada por bens de capital

Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO, 2 Jul (Reuters) - A produção industrial brasileira caiu 2,0 por cento em maio frente a abril, em um resultado pior do que o esperado e sofrendo especialmente com a queda nos bens de capital, o que esfria as expectativas de uma recuperação mais sólida do setor.

O resultado mensal divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira foi o pior desde fevereiro, quando a produção caiu 2,3 por cento, e elimina parte da expansão de 2,6 por cento acumulada nos meses de março e abril.
"Há um comportamento de maior volatilidade este ano. A variável nova é a componente dos estoques acumulados. Há um aumento no nível de estoque e isso pode estar na base da redução de ritmo em maio", explicou o economista do IBGE André Macedo.
Segundo ele, além dos estoques maiores, ocorreram também mais importações, mas como a demanda não está acompanhando no mesmo ritmo isso contribui para acumulação de estoques e para "a industria segurar seu ritmo".
O IBGE informou ainda que, na comparação com maio de 2012, a produção teve expansão de 1,4 por cento, também abaixo do esperado. A indústria opera no momento 3,8 por cento abaixo do patamar recorde observado há 2 anos, em maio de 2011.
Pesquisa da Reuters mostrou expectativa de queda de 1,0 por cento na comparação mensal e de avanço de 2,5 por cento ante maio de 2012.
"Fica mais difícil acreditar na consistência de recuperação. (O resultado da produção) elimina a chance de ter um número bastante robusto que pudesse levar a dizer que, no segundo trimestre, o PIB industrial ajudaria o PIB a crescer", disse o economista-chefe do Espírito Santo Investment, Jankiel Santos.
BENS DE CAPITAL
Todas as categorias de uso apresentaram queda na comparação mensal, sendo a pior entre os Bens de Capital, com recuo de 3,5 por cento, interrompendo quatro meses de resultados positivos consecutivos, período em que acumulou expansão de 15,3 por cento, segundo o IBGE.
Esse resultado, destacam analistas, é preocupante uma vez que a categoria reflete os investimentos. Para Santos, essa queda chama a atenção, principalmente porque o investimento deveria ser o "novo motor" da economia.
"É prepocupante, porque é reflexo de investimento. Vinha tendo alguma flutuação, mas não tão forte. Dessa vez foi um recuo bastante importante e fica dúvida: será que foi só caminhão no primeiro trimestre e agora não tem mais?", argumentou o economista do Espírito Santo Investment, referindo-se a produção de caminhões, que faz parte dos bens de capital.
Ainda sim, os bens de capital lideram o crescimento anual, com taxa de 12,5 por cento. O governo vem defendendo que quer fazer dos investimentos o principal indutor do PIB daqui para frente, e não mais o consumo.

Para Macedo, do IBGE, o fato de os estoques terem crescido em maio também impactou no resultado dos investimentos, mas ele acha cedo para falar sobre inversão de tendência, sendo prudente esperar os números de junho.
ATIVIDADE
Pelos ramos de atividade, 20 dos 27 pesquisados apresentaram queda mensal, com destaque para alimentos (-4,4 por cento), máquinas e equipamentos (-5,0 por cento) e veículos automotores (-2,9 por cento).
Juntos, os setores de alimentos e veículos representam quase um quarto da produção nacional. No caso de alimentos, a inflação mais alta este ano vem afetando a demanda e, consequentemente, a produção, segundo o IBGE.
"A redução de exportações e a desaceleração da economia mundial também ajudam", completou Macedo, do IBGE. Já a atividade de veículos foi impactada pela menor produção de caminhões.
Na ponta oposta, mostraram avanço bebidas (4,8 por cento), refino de petróleo e produção de álcool (1,6 por cento) e metalurgia básica (1,1 por cento).
O IBGE revisou ainda o dado de produção de abril ante março para alta de 1,9 por cento, ante avanço de 1,8 por cento anunciado anteriormente.
Depois de a indústria registrar retração de 0,3 por cento no primeiro trimestre, segundo os cálculos do PIB, em meio ao comportamento errático no início do ano, o humor em relação ao setor mudou após altas em março e abril.
Isso chegou a ajudar a economia a iniciar o segundo trimestre com expansão, segundo o indicador de atividade do Banco Central.
Mesmo assim, o próprio BC piorou na semana passada seu cenário para o crescimento neste ano, prevendo que o PIB crescerá 2,7 por cento. Essa leitura ainda é melhor do que a do mercado, que vê expansão de 2,40 por cento.
Para junho, o Índice de Confiança da Indústria apurado pela Fundação Getúlio Vargas mostrou recuo de 1,1 por cento em relação ao final do mês anterior. Já a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) aponta que a expansão da atividade do setor ficou inalterada.
Para o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, o resultado da produção industrial de maio reforça a expectativa de expansão de 0,9 por cento do PIB no segundo trimestre.
"Para junho, as sondagens e os indicadores já conhecidos têm sugerido alta da indústria entre 0 e 0,5 por cento na margem, em linha com a volatilidade que temos observado no curto prazo", afirmou em nota.
(Reportagem adicional de Walter Brandimarte, no Rio de Janeiro)

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