quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Esteves deixa controle do BTG nas mãos de outros sócios e banco vende fatia na Rede D'Or

O banqueiro André Esteves, preso há uma semana, deixou nesta quarta-feira o controle do BTG Pactual, em uma operação de troca de ações com os outros sete principais sócios, à medida que o banco de investimentos luta para desvincular sua imagem do agora ex-dono e reforçar a liquidez diante de resgates de clientes.

Em fato relevante, o BTG Pactual informou que os sócios Marcelo Kalim, Roberto Sallouti, Persio Arida, Antonio Carlos Porto Filho, James Marcos de Oliveira, Renato Monteiro dos Santos e Guilherme da Costa Paes passarão a exercer o controle do BTG Pactual por meio de uma holding a ser criada por eles.
O comunicado do BTG Pactual enviado pouco antes da abertura do pregão da bolsa paulista não trouxe outros detalhes sobre a operação de mudança de controle. A Bovespa suspendeu os negócios com as units do banco de investimentos até às 14h, à espera de mais esclarecimentos.
Mais cedo nesta quarta, o BTG Pactual anunciou a venda de participação na rede hospitalar Rede D'Or São Luiz para o GIG, fundo soberano de Cingapura, por 2,38 bilhões de reais. Os recursos devem ajudar o BTG Pactual a repor parte do dinheiro que deixou a instituição desde a prisão de Esteves na quarta-feira passada, acusado de interferir na operação Lava Jato, que investiga esquema bilionário de corrupção na Petrobras.
Esteves, que era tido como um dos mais influentes banqueiros do Brasil com trânsito entre políticos e empresários, já tinha renunciado no domingo de todos os cargos executivos na instituição financeira, onde acumulava as funções de presidente do Conselho e presidente-executivo do banco e da BTG Pactual Participations, braço de participações do grupo.
A mudança no controle anunciada nesta manhã depende de aprovação pelo Banco Central. Até a noite da véspera, o BTG Pactual afirmava que ainda não havia qualquer definição sobre a participação de Esteves no capital do grupo.
O BTG Pactual tem uma complexa estrutura societária, com units negociadas no Brasil que representam um pacote de ações ordinárias e preferenciais do banco e da BTG Pactual Participations, esta última sediada no exterior.

Uma fonte a par do assunto disse à Reuters que a saída de Esteves do controle do grupo não envolve dinheiro e que o banqueiro trocou ações com direito a voto por papéis preferenciais.
Os outros sete principais sócios irão dividir em partes iguais a fatia de controle que pertencia a Esteves e, a partir de agora, todas as decisões estratégicas sobre o BTG Pactual serão tomadas por maioria desses sócios, segundo a fonte, que falou sob condição de anonimato.
No fim da terça-feira, a agência de classificação de risco Moody's cortou o rating em escala global do BTG Pactual para grau especulativo, de "Baa3" para "Ba2", deixando a nota em revisão para potencial novo rebaixamento. A Moody's citou os desafios que o banco enfrenta para manter a liquidez após a prisão de Esteves.
BUSCA DE LIQUIDEZ
A divulgação da venda pelo BTG Pactual de fatia na Rede D'Or confirma notícia da Reuters no domingo, quando uma fonte disse que o grupo venderia 12 por cento na maior rede de hospitais do país ao GIC, que já tinha 16 por cento do negócio.
A parcela vendida representa investimento proprietário da instituição e de terceiros, segundo comunicado do BTG Pactual.
Em outra frente para reforçar suas finanças, o banco negocia a cessão de cerca de 4 bilhões de reais em carteiras de empréstimos aos rivais Itaú Unibanco e Bradesco, disseram à Reuters na segunda-feira duas fontes com conhecimento do assunto.
Em esclarecimento à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o BTG disse que corriqueiramente adquire e cede carteiras de crédito, reafirmando que poderá realizar novas transações conforme surjam oportunidades atrativas.
Esteves foi preso em 25 de novembro, numa operação em que também foi detido o senador Delcídio do Amaral (PT-MS). 
Delcídio, ex-líder do governo no Senado, foi acusado de ter supostamente negociado oferta de fuga ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e ajuda financeira mensal em troca de silêncio nas investigações. O pagamento, segundo o Ministério Público Federal, seria feito por Esteves.
A situação do banqueiro se agravou no domingo, quando sua prisão temporária foi transformada em preventiva, ou seja, por prazo indeterminado.
Além disso, reportagens na imprensa apontaram que a Polícia Federal teria encontrado anotações de suposto pagamento de propina do BTG Pactual ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e a outros peemedebistas em troca de emenda a uma medida provisória que favoreceria o banco. Cunha e BTG Pactual negaram as denúncias.
Fonte: Reuters 
Por Guillermo Parra-Bernal (Reportagem adicional de Priscila Jordão e Alberto Alerigi Jr.)

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