quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Cunha é preso pela Polícia Federal em Brasília a pedido de Moro

O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha foi preso preventivamente nesta quarta-feira pela Polícia Federal em Brasília por determinação do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, que concentra as ações da operação Lava Jato em primeiro instância, informaram a PF e o Ministério Público Federal.

A decisão de Moro atendeu a pedido dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato, que afirmaram que Cunha representava risco às investigações caso permanecesse em liberdade.
O ex-parlamentar foi preso no âmbito de uma ação penal repassada a Moro pelo Supremo Tribunal Federal em que Cunha é acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas em fatos relacionados à aquisição de um campo exploratório de petróleo em Benin, na África, pela Petrobras, no ano de 2011. A propina paga ao ex-deputado teria sido depositada em uma conta secreta de Cunha na Suíça.
Cunha foi citado por delatores da Lava Jato e teve o mandato parlamentar cassado pela Câmara em setembro. Antes disso, havia sido afastado em maio pelo STF da presidência da Câmara, cargo ao qual renunciou em julho.
O ex-parlamentar, responsável por deflagrar o processo que culminou com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, respondia a duas ações penais ligadas à Lava Jato no STF, mas as ações acabaram sendo repassadas a instâncias inferiores quando ele teve o mandato cassado e perdeu a prerrogativa de foro junto ao Supremo.
Uma delas, em que Cunha é acusado de receber pelo menos 5 milhões de dólares de um delator da Lava Jato em propina por um contrato de navios-sonda da Petrobras, foi repassada para o Tribunal Regional Federal da 2ª Região, sediado no Rio de Janeiro.
Isso porque a atual prefeita de Rio Bonito (RJ), a ex-deputada federal Solange Almeida, é ré no mesmo processo e, como prefeita, ela tem prerrogativa de foro junto ao TRF da 2ª Região.
A outra ação penal, que envolve a suposta propina relacionado aos campos de petróleo na África e o depósito dos recursos em contas na Suíça, que resultou em sua prisão nesta quarta, foi repassada a Moro.
Cunha nega ser o dono dessas contas, mas documentos dos Ministérios Públicos do Brasil e da Suíça apontaram Cunha e familiares como proprietários de contas bancárias no país europeu.
O ex-parlamentar teve o mandato cassado acusado de mentir em depoimento à CPI da Petrobras em 2015 quando questionado se tinha contas bancárias no exterior.
Figura polêmica na cena política nacional nos últimos anos, quando foi líder da bancada do PMDB na Câmara e articulou a formação do grupo de parlamentares conhecido como "centrão", ainda antes de se eleger presidente da Casa, Cunha é conhecido por contra-atacar sempre que tem seu nome envolvido em irregularidades.
Após sua cassação, ele culpou o governo do presidente Michel Temer pelo ocorrido e, dias depois, fez acusações de irregularidades contra o secretário do Programa de Parceria de Investimentos, Moreira Franco, um dos nomes mais próximos a Temer no governo.
Cunha, que foi deputado pelo PMDB do Rio de Janeiro, tem afirmado que não fará um acordo de delação premiada pois alega inocência e diz não ter o que delatar. Ele, no entanto, disse que escreverá um livro sobre o impeachment de Dilma no qual relatará conversas que teve com personagens políticos sobre o assunto.

Fonte: Reuters (Por Lisandra Paraguassu e Eduardo Simões / Reportagem adicional de Anthony Boadle, em Brasília)
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