Luiz Felipe Andrade diz que os mercados devem seguir voláteis até o ano que vem e que a bolsa brasileira não deverá ter o chamado "rali de fim de ano" neste dezembro
Dezembro não deverá ser um mês melhor do que os anteriores para o mercado de capitais brasileiro. A opinião é de Luiz Felipe Andrade, presidente no Brasil da maior gestora global de recursos, a norte-americana BlackRock.
Ele afirma que diante das incertezas na Europa e da grande volatilidade nas bolsas globais, o mercado de ações brasileiro deve não ter o tradicional subida de fim de ano em 2011, que é um alívio que geralmente as bolsas de valores têm em dezembro, quando investidores se posicionam para começar o ano seguinte.
“O cenário para os investimentos está tão inseguro e com tamanha volatilidade, que pode acontecer neste ano de não termos um rally de fim de ano,” afirmou o executivo nesta terça-feira, em São Paulo, após o lançamento da 7ª carteira de ações do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBovespa.
A volatilidade, que foi a palavra mais falada pelos analistas de bolsas neste semestre, deve continuar a ser bastante usada em 2012, pelo menos na primeira parte do ano, segundo o executivo. “A volatilidade não deve ir embora no curto prazo. Enquanto não tivermos um ambiente na Europa minimamente menos inseguro, é mais provável que o mercado continue assim. Mas espero que essa insegurança não continue durante todo o ano que vem,” acrescentou.
Andrade disse ainda que “não dá para olhar para a bolsa com óculos de seis meses” e que a visão dos investidores tem que ser de longo prazo. Segundo ele, “em algum momento”, os grandes investidores brasileiros, como os fundos de pensão e os institucionais, deverão buscar mais as opções de investimentos de renda variável, pois aplicar em produtos que acompanham os juros e a inflação deixará de ser “confortável” com a queda dos juros.
“Sempre pensamos: ‘agora vai, agora vai’, e nada,” afirmo o executivo, em referência à migração dos investidores da renda fixa para a variável. “Mas em algum momento, as instituições vão ter que buscar mais opções que não sejam apenas o DI [depósito interbancário] e terão que ir para a renda variável. Esta decisão vai ter que acontecer,” disse.
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Europa
Segundo Andrade, atualmente, a Europa e os eventuais efeitos dos problemas europeus para os Estados Unidos são as principais preocupações da Black Rock, que faz a gestão de US$ 3,5 trilhões de ativos em todo o mundo.
“Nosso volume sob gestão é monstruoso em todo o mundo e, neste momento, há questões endereçadas ao que aconteceria com um eventual fim do euro, por exemplo,” afirmou Andrade.
ETFs
Em relação ao Brasil e os demais países emergentes, ele afirma que a gestora não vê esses mercados apenas como destino de investimentos, mas também como estratégicos. “Temos feito um esforço grande para crescer no Brasil e na região e nosso comprometimento com o País mostra isso. Viemos para ocupar um espaço relevante no mercado de gestão de recursos local.”
Segundo ele, a BlackRock - que tem uma atuação forte no mercado de fundos de índices (ETFs), pretende criar novos produtos ao Brasil sempre que as novidades fizerem sentido para a demanda dos investidores locais. “Vamos trazer qualquer solução que atenda ao investidor brasileiro,” diz.
Além de um fundo de índice de empresas que compões o Índice de Carbono Eficiente (ICO2), a empresa lançará também um ETF de utilities (energia e infraestrutura), segundo ele.
Sustentabilidade
Andrade, que participou de discussões sobre sustentabilidade durante o lançamento da nova carteira do ISE, afirmou que cabe ao investidor brasileiro induzir as empresas locais a se preocuparem mais com práticas sustentáveis e se esforçarem mais para participar de índices de sustentabilidade.
“O investidor vai ser o pendão que vai mudar a situação. Ele vai ser o indutor da busca das empresas por mais sustentabilidade. Quando ele se mover neste sentido, a empresa não vai ter mais opção e vai ter que aderir às práticas e aos índices,” afirmou.
Sobre o papel do estrangeiro para o incentivo para que as empresas sejam mais sustentáveis, Andrade afirmou que o Brasil tem um número pequeno de empresas na bolsa e que faltam oportunidades para os investidores de fora. “O País tem escassez de empresas. Quando começamos a filtrar, não sobra ninguém para investir. Isso é um limitador para os gestores de ativos,” afirmou.
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