sexta-feira, 20 de julho de 2012

PERSPECTIVA MACRO: Desempenho da economia no 2S12 será decisivo para emprego

   São Paulo, 20 de julho de 2012 - Diferente dos índices de crescimento 
econômico e de inadimplência, as taxas de desemprego têm se mantido
praticamente inalteradas neste ano, a despeito do cenário externo desfavorável

e da desaceleração da economia brasileira. De acordo com a Pesquisa Mensal de
Emprego (PME), aferida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), por exemplo, a taxa de desemprego em maio era de 5,8%. Entretanto,
alguns setores e indicadores antecedentes vêm dando sinais de que a
diminuição da demanda interna e por exportações devem atingir os
trabalhadores, principalmente se a melhora prometida pelo Ministério da Fazenda
e pelo Banco Central (BC) para o segundo semestre não satisfizer investidores
e empresários. A opinião é de economistas e representantes de associações
dos principais setores afetados pelo atual cenário econômico.

   Conforme explica Paulo Francini, diretor do Departamento de Estudos e
Pesquisas Econômicas (Depecon) da Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp) e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), a
desaceleração no emprego não acompanha, na velocidade ou na amplitude, a
oscilação dos indicadores econômicos, e que cada empresa tem o seu limite
para manter as vagas existentes diante da economia desaquecida.

   Esse limite parece ter chegado para muitas indústrias de transformação no
estado de São Paulo. Com sete mil demissões contabilizadas em junho, na
comparação com maio, a estimativa de Francini é que as perdas no setor somem
100 mil vagas ao final de 2012.

   "Uma economia não se move com artifícios para reduções tarifárias para
um ou outro setor. Se essa pretensa recuperação anunciada pelo Banco Central
não vir, a consequência será muito ruim", afirma Francini.

   Os fabricantes de caminhões e de motos são as indústrias mais atingidas
pela desaceleração econômica. De acordo com dados da Federação Nacional da
Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o emplacamento de
caminhões acumula queda de 16,03% no acumulado do primeiro semestre de 2012 em
relação a igual período no ano passado. Já o emplacamento de motos teve
queda de 7,58% na mesma base de comparação. Segundo projeção da MB
Associados, o segmento de caminhões deve encerrar o ano com queda de 8% nos
emplacamentos e as motos devem ter redução de 2,70%.

   Consultada pela Agência Leia, a Iveco, fabricante de caminhões leves,
médios, semipesados, pesados e extrapesados, disse não prever parada de
produção neste ano, mas que tem utilizado o banco de horas dos trabalhadores
para adequar a produção à demanda de veículos. "Por enquanto, a Iveco não
planeja futuras contratações para sua fábrica em 2012 e 2013", pondera a
Iveco, em nota.

   Por outro lado, o setor de automóveis e comerciais leves deve ter alta de
1,20% nos emplacamentos do ano, conforme dados da MB Associados, beneficiado
pela isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) até o próximo
dia 31 de agosto.

   "De uma forma geral, no setor de automóveis, se mantiver o quadro que
temos hoje não vemos problemas de emprego. Contudo, as vendas de veículos
estão diretamente atreladas ao PIB [Produto Interno Bruto], então não dá pra
dizer que se o mercado expandir não vai afetar o setor. Estamos torcendo para
esse ano acabar logo para o próximo ser melhor", afirma Flávio Meneghetti,
presidente da Fenabrave.

   Na outra ponta, as empresas filiadas à Associação Brasileira das Empresas
Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva) encerraram o semestre com queda
de 21,6% nas importações, com 70.969 unidades ante as 90.518 unidades em igual
período de 2011. No mês de junho foram emplacadas 11.201 unidades, queda de
41,4% se comparado a junho de 2011.

   De acordo com Flávio Padovan, presidente da Abeiva, o setor foi prejudicado
pela isenção do IPI para os veículos nacionais e já fechou 10 mil das 35
mil vagas diretas ocupadas no início do ano. "Esse é um cenário preliminar.
A tendência é que, se nada for feito, piore", afirma Padovan.

   No caso das empresas ligadas à Associação Brasileira dos Fabricantes de
Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) é
esperada queda entre 10% e 15% nas vendas de motocicletas em 2012. No início do
 ano, a previsão era de crescimento de 5% em 2012.

   Atualmente em férias programadas, as fábricas do setor localizadas no
pólo de Manaus já demitiram 2 mil funcionários, ou 10% de seu contingente.

   José Eduardo Gonçalves, diretor-executivo da Abraciclo, aguarda desde
junho respostas do governo em relação a solicitações como desoneração
tributária, entre outros incentivos para o setor, para que as indústrias
consigam fechar o ano sem novas demissões.

   A Abraciclo também tem tentado, junto aos bancos, a flexibilização da
concessão de crédito para a compra de motos. Atualmente, apenas 20% dos
contratos de financiamentos são aprovados.

   "Os bancos estão muito rigorosos na concessão de crédito. Essa maior
seletividade começou no último trimestre do ano passado e foi aumentando",
afirma Gonçalves.

    Comércio e serviços

   O cenário econômico internacional também abala a confiança do
empresário na área comercial, até então praticamente imune às demissões.
Segundo o Indice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC), da
Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo
(Fecomercio). Em junho houve retração de 6,3%, com 115,4 pontos. Resultados
acima dos 100 pontos denotam otimismo. No entanto, o resultado é o mais baixo
da série histórica, iniciada em junho de 2011 e, apesar de o índice ainda
indicar otimismo de forma geral, empresários não enxergam o momento atual como
satisfatório. Prova disso é que o subíndice que mede a percepção do
empresário sobre o momento atual ficou em 86,3 pontos, denotando pessimismo.

   Em contrapartida, a expectativa de contratação de funcionários registrou
melhora, com 72,39% dos empresários esperando aumentar seu quadro de
funcionários. Além disso, 58,31% afirmam que farão mais investimentos que o
realizado no mês anterior.

   Para Thiago Freitas, assessor econômico da Fecomercio-SP, a intenção de
contratação apesar do pessimismo em relação a economia é atribuída ao
aumento da renda das famílias e aos dados gerais de emprego estáveis nos
últimos meses.

   "O empresário sinaliza que tem problemas, mas que tem esperança de que a
crise pode passar e o final do ano tende a ser bom. Claro, se essa crise piorar,
sentiremos efeito no emprego. Não é para sempre que o comércio se manterá
em alta com a indústria caindo", alerta Freitas.

   Segundo o assessor econômico, o nível de endividamento das famílias é
outro fator preocupante, mas o setor também acredita que a tendência é de
redução até o final do ano.

   Entretanto, contar com o aumento da demanda no segundo semestre é um erro
para Marcello Gonella, professor da Escola de Negócios da Universidade Anhembi
Morumbi. "A grande massa da população está em um alto nível de
endividamento. Não vamos conseguir aquecer a demanda, seja pelas famílias ou
pela exportação", afirma o professor.

   Para Gonella, a resposta está na reforma tributária para diversos setores
da indústria e no aumento de investimentos públicos.

    Medo do desemprego

   Ainda que os setores de comércio e serviços não estejam sentindo a
pressão da desaceleração econômica como os industriais, os brasileiros já
demonstram certo receio quanto à segurança de seus empregos. O Indice de Medo
do Desemprego, medido trimestralmente pela Confederação Nacional da
Indústria (CNI), passou de 73,5 pontos em março para 74,7 pontos em junho.
Quanto mais alta a pontuação, maior o medo das pessoas perderem o emprego.



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